Como um presente de Natal desejado ou indesejado?

 

Álbum de Lorde carrega referências pessoais, artísticas, melancólicas e que gera questionamentos de opiniões sobre o seu conteúdo 

    MELODRAMA: Do francês mélodrame, “espécie de drama falado cujas cenas comportam um acompanhamento musical; drama de tom popular em que se acumulam peripécias imprevistas”. 
    Substantivo masculino
    1.
     TEATRO 
    Drama popular, por vezes com acompanhamento musical, que se caracteriza por enredo complicado e pelo exagero de situações violentas e patéticas. 
    2. 
    MÚSICA • TEATRO 
    Gênero de obra dramática, desenvolvido a partir do século XVIII, cujo texto é acompanhado de música instrumental. 

    Quando se fala na Belle Époque (Bela Época) é comum a associação ao impressionismo — movimento cujo nome é derivado da obra “Impressão: nascer do sol”, de Claude Monet —, que começou aproximadamente em 1860. Ella Marija L. Y. O’Connor, creditada artisticamente por Lorde, explora na capa de seu segundo álbum inspirações nas obras artísticas do pintor neerlandês pós-impressionista Vincent Williem van Gogh — ou apenas Van Gogh. Ambas as menções são feitas dada a personalidade da cantora e do próprio álbum, que se casam perfeitamente.

    A palavra-título que nomeia o álbum carrega uma forte referência ao passado. Levando em consideração que Lorde escolheu seu nome artístico devido ao fascínio pessoal pela nobreza, é de se esperar que alguns elementos fizessem parte de suas canções. Entre eles, a genialidade presente em suas composições, que desafiam obras comerciais concorrentes — dado que a sua é mais pessoal do que comercial — e a facilidade de encaixar suas canções em qualquer trilha sonora de filme, livro ou série, provando sua versatilidade e comprovando que, quando há emoções sinceras, uma produção musical alcança além do esperado. 

    Tanto o impressionismo quanto o pós-impressionismo, este com mais intensidade, transmitiam sensações e emoções através das obras — não resumidas em apenas pinturas. O primeiro foi marcado pela busca da obra como si mesma, fugindo do realismo ou da academia, enquanto o segundo, é caracterizado, principalmente, pela inovação e diversidade; a valorização das emoções e sensações são importantes aqui. E, por essa razão, ambos são ideais para definir a criação de Lorde em “Melodrama”. Principalmente porque há uma energia em suas músicas que transmite toda síntese dos conceitos mencionados neste texto.

        Ao se escutar o álbum completo, percebe-se uma semelhança com alguns artistas, tais como Olivia Rodrigo, Halsey, Sabrina Carpenter, Ruelle e Olivia O’Brien, que com certeza se inspiraram em Lorde para produzir alguns de seus sucessos. 

       No entanto, apesar de um conjunto impecável, há a presença de uma dualidade em cima do quão satisfatórias são as canções de “Melodrama”. Para os amantes de músicas melancólicas e sentimentalistas, a proposta se encaixa como o brinquedo que a criança tanto queria e ganhou de Natal. Mas, para aqueles que preferem ou se encontram numa vibração pessoal mais alegre, é como um presente embrulhado numa caixa bonita, acompanhado de um laço gigante e perfeito, mas com conteúdo indesejado. O que prova, mais uma vez, que álbuns pessoais e não comerciais — direcionados ao desejo de um público específico — estão à mercê da sorte no mercado. 

        NOTA: 8.9 / 10

(Foto: Reprodução/Pinterest)

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